As comunidades quilombolas no Mato Grosso do Sul



Com o processo de escravidão, foi interrompido o curso da história destes grupos em seu continente, comprometendo violentamente os seus costumes com relação à alimentação, ao modo de se vestir, à sua vida familiar e em grupo e à sua religião.

No Brasil, os escravos eram obrigados a comer o que lhes era dado e a vestir o que lhes era imposto, como panos grossos de algodão. Apesar de tudo isso, ainda conseguiram resistir e manter muitas das suas tradições.

Os escravos africanos e seus descendentes resistiram constantemente à escravidão e lutaram de várias formas contra a violência que lhes era imposta, como fazer o trabalho mais devagar, quebrar ferramentas, incendiar plantações, agredir seus senhores e feitores ou fugir.

De todas as formas de resistência, a fuga, realizada individualmente ou em grupos, constituiu-se a mais comum, possibilitando ao escravo buscar a sua liberdade.

Mesmo sendo caçados, recapturados e castigados, milhares de escravos conseguiram escapar da escravidão e fundar mocambos (esconderijos) e quilombos (povoações), como, por exemplo, o quilombo do Piolho, que era conhecido também como quilombo do Quariterê, no Mato Grosso.

A repressão aos quilombos era intensa, sendo coordenada pelos senhores de escravos e governadores, com a ajuda de comerciantes e outros brancos das vilas e arraiais e executada por homens armados.

O quilombo do Piolho, por exemplo, situava-se na região de Guaporé, localizado perto do rio Galera, um afluente do rio Guaporé. Formado por volta de 1740, habitado por mais de 100 pessoas, era constantemente ameaçado de invasão até que, em 1778, os proprietários de terras em Vila Bela se organizaram e conseguiram destruir o quilombo, aprisionando os sobreviventes da batalha. O nome do quilombo foi dado por causa do Rio Piolho que banhava a região.

Entre os séculos XVIII e XIX, escravos fugitivos espalharam-se pelo território mato-grossense, em áreas próximas de algumas vilas como: Vila Maria (hoje Cáceres), Vila Bela, Poconé, Diamantino e Chapada dos Guimarães ou próximas de rios como: Piraputanga, Roncador, Jangada e Serra Dourada.

Nestes quilombos eram produzidos gêneros alimentícios (milho, feijão, mandioca, cará, banana e ananás), como também criavam pequenos animais e aves. No Quariterê cultivavam também fumo e algodão e fabricavam ferramentas e armas.


Ruínas da igreja matriz de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), construída em 1771.


 Ruínas da igreja matriz de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), construída em 1771.

Ruínas da igreja matriz de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), construída em 1771.

Ruínas da igreja matriz de Vila Bela da Santíssima Trindade (MT) – Imagem em Alta Resolução



Hoje as regiões onde ainda residem os descendentes de escravos são denominadas comunidades quilombolas. No Brasil, já foram identificadas muitas comunidades que têm origem histórica nos quilombos, sendo que no estado do Mato Grosso do Sul existem muitas destas comunidades, como por exemplo, a comunidade de Furnas do Dionísio e Furnas da Boa Sorte.


Comunidades rurais quilombolas no Mato Grosso do Sul - Mapa


 Comunidades rurais quilombolas no Mato Grosso do Sul - Mapa

Comunidades rurais quilombolas no Mato Grosso do Sul - Mapa

Comunidades rurais quilombolas no Mato Grosso do Sul - Mapa – Imagem em Alta Resolução



Para serem reconhecidas como comunidades quilombolas, não é preciso que as comunidades tenham sido formadas apenas por escravos fugidos. Mas precisam ter algumas características como uma população negra vivendo em área rural e cultivando para sua sobrevivência, além de costumes e tradições referentes às comunidades que ocupavam o quilombo de origem.

Ainda hoje, muitos descendentes dos escravos lutam na justiça para ter a propriedade coletiva das terras em que vivem. A Constituição de 1988 reconheceu aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras o direito à propriedade definitiva, devendo o Estado emitir o título respectivo de posse.

Como seus antepassados, a vida dos quilombolas de hoje em dia também é de muita luta. Além da questão territorial, os moradores das comunidades negras batalham para manter seu modo de vida tradicional. Os quilombolas realizam atividades agrícolas e extrativas, a pesca e a criação de animais que são as atividades de subsistência. O cultivo de maior produção é de feijão e milho. As plantas medicinais são cultivadas nos quintais e nas roças. Além disso, há ali um trabalho coletivo com a prática de mutirões, na troca de dias de serviços, nos momentos culturais entre eles, os bailes e as festas religiosas envolvendo não só a comunidade, mas outras vizinhas.

Na atualidade, as chamadas políticas afirmativas são formas que a sociedade brasileira busca encontrar para resgatar uma dívida com os descendentes dos africanos que foram trazidos para o Brasil como escravos.

Afinal, foram inúmeras as violências cometidas no Brasil contra os africanos, desde o início da colonização. Além do fato de terem sido tirados de seus locais de origem, foram transportados em péssimas condições a um outro continente e vendidos como mercadorias.

Nesse processo, não houve respeito aos laços familiares, aos seus costumes e ao sentimento de pertencer a um grupo que une os indivíduos por tradições, sua história, sua língua e outros aspectos.

O dia 20 de novembro foi proclamado como o Dia da Consciência Negra. A transformação desta data em Dia da Consciência Negra é um marco na luta pela igualdade racial brasileira. Essa data foi escolhida porque Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência contra a escravidão foi assassinado em 20 de novembro de 1695. Em 1995, trezentos anos depois de sua morte, Zumbi foi reconhecido como herói nacional.

Esta data tornou-se muito mais que uma data comemorativa, é um dia de memória e reflexão sobre a atual situação da população afrodescendente brasileira.


A comunidade de Furnas foi fundada em 1890 pelo ex-escravo Dionísio Vieira


A comunidade de Furnas foi fundada em 1890 pelo ex-escravo Dionísio Vieira

A comunidade de Furnas foi fundada em 1890 pelo ex-escravo Dionísio Vieira juntamente com vários outros ex-escravos, que ficaram sabendo das terras disponíveis na região do atual estado do Mato Grosso do Sul. A comunidade era composta exclusivamente por ex-escravos que se dedicavam ao cultivo da lavoura e criavam pequenos animais domésticos. Os moradores de Furnas buscam preservar a tradição de seu povo, através da história e do festejo tradicional de suas raízes.

A comunidade de Furnas foi fundada em 1890 pelo ex-escravo Dionísio Vieira – Imagem em Alta Resolução





Glossário


Remanescentes: que restaram.

Políticas afirmativas: medidas adotadas pelo Estado que visam eliminar desigualdades e compensar perdas provocadas por motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.




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